Que saudades destas ruas da minha infância! Corríamos, saltávamos e, até brincávamos, não com as novas tecnologias, mas com o arco, o pião, o jogo do pau -  a bilharda como é conhecido em Trás-os-Montes, o jogo da bola no cimo do pátio (Largo de Santo António) e, quase sempre, no interior do pátio do Sr. Dr. Zé Maria!. Algumas das vezes o jogo era interrompido por ordem da senhora Silvina, governanta da Casa Grande ou, do Sr. Fernando Quintela, feitor da mesma. Os rapazes do fundo do povo raramente subiam até mais longe da nossa terra. As ruas e quelhas da "vila" eram, para nós, crianças desse tempo distante, o nosso "mundo".

Havia crianças em todas estas ruelas, havia alegria e vida, e velhinhos que raramente  se arrastavam da soleira da porta. Ao fim do dia, a fonte dos mouros era um corrupio de gente  para encher os cântaros com a água desta antiquíssima fonte da nossa terra. O abastecimento domiciliário deste precioso liquido só mais tarde começou a correr nas casas dos mais abastados. Os pobres, a grande maioria da população continuou a abastecer-se nas fontes públicas.  As noites eram longas,  os invernos rigorosos, os agasalhos poucos, mas tudo se superou com respeito pelo próximo, e com a dignidade que todo o ser humano tem direito.

Neste Dia Mundial da Criança, saúdo, citando Soeiro Pereira Gomes, " os filhos dos homens que nunca foram meninos".