Recordações da minha infância em Torroselo
Nos anos 60 do século passado quem queria saber notícias ouvia a rádio. As emissoras nacionais estavam resumidas à Radio Renascença, Rádio Clube Português e Emissora Nacional. Havia mais algumas rádios, mas de âmbito regional. A televisão tinha aparecido havia poucos anos, e aparelhos em Torroselo podiam contar-se pelos dedos de uma mão. Mesmo os aparelhos de TSF eram poucas as famílias que tinham estes "luxos", mas nas tabernas então existentes havia sempre estas caixas "mágicas" que nos davam as notícias que a censura permitia. Nada era emitido ou publicado sem passar pelo crivo dos censores do regime. Com a chegada de Marcelo Caetano a presidente do Conselho de Ministros a censura foi "aliviada", mas não suprimida!
Uma dessas tabernas situava-se na Rua Direita, actual Rua Luís de Albuquerque Pimentel e era propriedade do saudoso e bom amigo torroselense, Joaquim Pires e de sua esposa Dª Josefina Lavrador.
Era aí que os mais velhos - entretidos com o joga da sueca - e os jovens com o futebol, ouviam aos domingos os relatos do desporto do povo. Nesse tempo todos os jogos eram às 15 horas pelo que, constantemente, o narrador era interrompido com um golo no "Estádio do Mar", gooolo no "Estádio conde Dias Garcia" é goooooolo do Benfica, .Goooolo do Porto! É goooolo do Sporting! Marca o Belenenses na Póvoa! É gooooooolo do Boavista ! A Académica reduz em Coimbra!
Aos Domingos pela tarde fora chegavam os sapateiros, de Folhadosa, o senhor Casimiro, e de Várzea, o senhor Noberto com algum calçado reparado que, feito por maõs habilidosas davam mais alguns anos de vida às botas, tamancos e sapatos domingueiros.
Assim, ouvindo o relato de futebol, comendo tremoços ou amendoins se passavam os domingos na aldeia. Quase sempre ficávamos pelo fundo do povo. Poucos se aventuravam a subir até à Catraia....
Texto e fotos: António Madeira